O câncer do cristianismo moderno – Pr Ângelo Bazzo

Existe uma doença que assola o cristianismo hoje como um câncer que se espalha: superficialidade.

Basicamente, significa que as pessoas conseguem ter um cristianismo sem Cristo, como Dietrich Bonhoeffer falava é um cristianismo sem Cruz uma graça sem Cruz uma graça barata que acontece que as pessoas elas entram no cristianismo elas entram na igreja mas parece que a realidade da palavra não penetra dentro delas. A ponto delas serem transformadas da imagem de Jesus como que isso acontece?bom isso começa com o evangelho que elas ouvem elas houve uma palavra que não é exatamente o evangelho de Jesus elas ouvem uma palavra que apenas afaga o ego e traz uma aceitação do estilo de vida que elas têm não é uma palavra que fala a respeito daquilo que Cristo fez na cruz em relação aos seus pecados aos seus males. não é uma palavra que fala sobre a ira de Deus contra o pecado depois disso depois da pregação do evangelho que tem sido superficial no meio do povo de Deus uma pregação que não fala de arrependimento que não fala de quebrantamento que não fala de um verdadeiro submeter ao senhorio de Jesus nós também temos um processo de discipulado superficial ou seja as pessoas poucas que convertem permanecem na imaturidade por muitos anos e por quê Porque elas não são conduzidos numa jornada de aprofundamento da comunhão com Deus no desenvolvimento das disciplinas espirituais no desenvolvimento do caráter cristão no estilo de vida de aplicar a graça de Deus no seu coração por causa disso nós corremos um sério risco nesses dias corremos o risco de sermos afetados com essa doença a ponto de sermos levados a morte você você pode estar sendo afetado com essa doença eu quero que você preste atenção isso porque esse pode ser o diagnóstico da sua vida o que está acontecendo com você será que você está indo de conferência em conferência livro após livro vídeo após vídeo culto após culto tentando encontrar a solução dos seus problemas e parece que nunca encontra é porque talvez a solução não esteja fora de você mas esteja em aprofundar as raízes da sua fé em um encontro profundo com Deus romper com a superficialidade e entrar em uma dimensão nova com Deus será que o que você provou até hoje de Jesus é só a ponta do iceberg e existe um nível muito maior para você entrar? eu creio que sim eu creio que a igreja cristã como um todo precisa ir mais fundo Mas você também você individualmente se você pedir a Deus hoje para que ele revele a você novos níveis novas dimensões, Deus vai mostrar para você largura, altura e profundidade do amor de Jesus Ore a Deus pedindo que ele revele as novas dimensões do amor de Deus a você. Peça a Deus que o Espírito Santo escolte você até as profundezas do oceano da presença de Deus, e você então vai saber que existe mais do que essa superficialidade que nós temos visto até hoje.

Quebrando e Mantendo Promessas (2º Samuel 21) – Robert L. Deffinbaugh

Eu e minha esposa, Jeanette, recentemente saímos de férias, o que incluiu uma semana no nordeste dos Estados Unidos. Viajamos por Massachussets, Maine, Nova Escócia, Ilha do Príncipe Eduardo, Nova Brunswick, Vermont, Nova Hampshire e Rhode Island. Amamos a costa, com todas aquelas baías e portos. Ficamos embasbacados com a mudança das folhas de outono para amarelo-ouro e vermelho vivo. Tendo sempre vivido no noroeste do país e no Texas, ficamos muito impressionados com as coisas antigas do nordeste. Vimos igrejas construídas antes da Declaração de Independência, e lápides em túmulos de pessoas que morreram séculos atrás.

A palavra “antigo” tomou um novo significado; o “antigo” era “mais antigo” do que pensávamos. No entanto, na América, mesmo esse tipo de “antiguidade” não é tão “antiga” assim. Seria “antigo” um prédio ou túmulo de 200 anos? Pense, então, no que a palavra significava para os crentes do Velho Testamento. Por exemplo, os israelitas fizeram uma aliança com os gibeonitas quatro séculos antes da época de Davi. Não creio que Saul tenha se esquecido dessa aliança. Com toda probabilidade ele deve ter se convencido de que ela tão “antiga” que já não estava mais em vigor. Como ele estava enganado! Sua atitude em relação aos gibeonitas provocou a fome em Israel tempos depois da sua morte. Sobrou para Davi lidar com o problema criado por ele e endireitar as coisas.

Para os nossos ouvidos ocidentais, essa história soa estranha. Ficamos nos perguntando como e por que é necessário matar sete descendentes de Saul por uma coisa feita anos antes, relacionada a uma aliança de quatrocentos anos de idade. Ficamos intrigados quando a mãe de dois dos executados envida todos os esforços para proteger os corpos dos filhos, e quando pedem a Davi que lhes dê um enterro apropriado, junto com os ossos de Saul e de seu(s) filho(s). Mais estranho ainda é descobrir que Golias, com quem Davi lutou no início de sua carreira, teve uma porção de descendentes, os quais também são todos gigantes.

Todas essas histórias estranhas estão juntas no capítulo 21 de 2 Samuel, e foram registradas e preservadas por inspiração e supervisão divina. Tenhamos em mente que elas são como uma conclusão ou clímax de 1 e 2 Samuel. Até aqui o autor esteve aumentando a tensão, por isso, a mensagem deve ser importante para todos nós. Vamos prestar muita atenção a essas histórias para aprender a mensagem que Deus tem para nós.

Endireitando as Coisas com os Gibeonitas (21:1-9)

Houve, em dias de Davi, uma fome de três anos consecutivos. Davi consultou ao SENHOR, e o SENHOR lhe disse: Há culpa de sangue sobre Saul e sobre a sua casa, porque ele matou os gibeonitas. Então, chamou o rei os gibeonitas e lhes falou. Os gibeonitas não eram dos filhos de Israel, mas do resto dos amorreus; e os filhos de Israel lhes tinham jurado poupá-los, porém Saul procurou destruí-los no seu zelo pelos filhos de Israel e de Judá. Perguntou Davi aos gibeonitas: Que quereis que eu vos faça? E que resgate vos darei, para que abençoeis a herança do SENHOR? Então, os gibeonitas lhe disseram: Não é por prata nem ouro que temos questão com Saul e com sua casa; nem tampouco pretendemos matar pessoa alguma em Israel. Disse Davi: Que é, pois, que quereis que vos faça? Responderam ao rei: Quanto ao homem que nos destruiu e procurou que fôssemos assolados, sem que pudéssemos subsistir em limite algum de Israel, de seus filhos se nos dêem sete homens, para que os enforquemos ao SENHOR, em Gibeá de Saul, o eleito do SENHOR. Disse o rei: Eu os darei. Porém o rei poupou a Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, por causa do juramento ao SENHOR, que entre eles houvera, entre Davi e Jônatas, filho de Saul. Porém tomou o rei os dois filhos de Rispa, filha de Aiá, que tinha tido de Saul, a saber, a Armoni e a Mefibosete, como também os cinco filhos de Merabe, filha de Saul, que tivera de Adriel, filho de Barzilai, meolatita; e os entregou nas mãos dos gibeonitas, os quais os enforcaram no monte, perante o SENHOR; caíram os sete juntamente. Foram mortos nos dias da ceifa, nos primeiros dias, no princípio da ceifa da cevada.

Os gibeonitas são um povo muito interessante. O autor se refere a eles como amorreus (21:2), mas tecnicamente eles são mais conhecidos como os heveus (Josué 9:1, 7; 11:19).1 Eles estavam entre os moradores de Canaã, a quem Deus tinha ordenado a Israel aniquilar (Êxodo 33:2; 34:11; Deuteronômio 7:1-2). Isso teria ocorrido, não fosse uma estranha reviravolta na situação, a qual é descrita no capítulo nove do livro de Josué. Sob a liderança de Josué, os israelitas tinham acabado de cruzar o rio Jordão (Josué 3) e capturado a cidade de Jericó (capítulo 6), e em seguida Ai (capítulos 7 e 8). A cidade seguinte a ser atacada por Israel com toda certeza seria Gibeão, e os gibeonitas sabiam disso.

Gibeão era uma cidade grande, e seus guerreiros estavam entre os melhores (10:2). Era de se esperar que saíssem à luta, mas eles preferiram fazer uma abordagem diferente. Como Raabe, em Jericó, eles acreditavam que Deus dera a terra de Canaã a Israel. Eles sabiam que não teriam nenhuma chance se lutassem contra os israelitas. Por isso, enviaram uma delegação ao acampamento deles fingindo ter feito uma longa jornada, vindo de um lugar distante. Os emissários tinham colocado pano de saco e odres velhos em seus jumentos, estavam vestidos com roupas esfarrapadas e levavam consigo provisões e pão mofado. Tudo isso dava uma espécie de credibilidade à alegação de que vinham de muito longe. Os israelitas fizeram uma aliança de paz com esse povo “distante”. Quando perceberam que tinham sido enganados, os israelitas quiseram matar os gibeonitas, mas a aliança recém firmada os impediu de fazê-lo. Por isso, os israelitas tornaram os gibeonitas seus escravos, usando-os para cortar lenha e tirar água, principalmente para a casa de Deus (Josué 9:16-17)

O tratado dos gibeonitas com Israel salvou-os da morte, mas também os colocou em perigo com seus compatriotas amorreus. Quando cinco reis amorreus ficaram sabendo da deserção de Gibeão e da sua aliança com os israelitas, passaram a vê-los como inimigos. Os cinco reis fizeram uma coligação e partiram para atacar e destruir Gibeão (10:1-5). Quando perceberam que estavam sendo atacados, os gibeonitas mandaram uma mensagem a Josué em Gilgal, pedindo ajuda, e conseguiram (o acordo feito com eles também lhes assegurava a proteção de Israel). Deus garantiu a Josué que lhes daria a vitória: “nenhum deles te poderá resistir” (10:8). Saindo de Gilgal e marchando durante toda a noite, Josué derrotou os reis amorreus, fazendo um grande morticínio em Gibeão. Quando fugiam de Josué, Deus mandou grandes pedras de granizo sobre os amorreus, matando mais com a chuva de granizo do que com a espada (10:11). Mesmo assim, a vitória não foi completa, por isso, Josué orou a Deus pedindo para o sol parar no céu, dando mais tempo aos israelitas para destruir os amorreus. O sol parou sobre Gibeão, de modo que jamais houve um dia de batalha como aquele, nem antes nem depois. Só dá para imaginar o que se passava na cabeça dos gibeonitas enquanto viam a mão de Deus, e partilhavam das Suas bênçãos sobre o Seu povo, Israel.

Quando os israelitas tomaram posse da terra de Canaã, a cidade de Gibeão foi atribuída ao território de Benjamim, e também separada para os levitas (Josué 21:17). Essa cidade era o “altar lugar” onde o tabernáculo foi assentado e mantido até o término do templo de Salomão (Davi levou a arca para Jerusalém, mas o tabernáculo e o altar permaneceram em Gibeão, ver 2 Samuel 6; 1 Crônicas 16:39-40; 21:29). Logo no início do seu reinado, Salomão subiu a Gibeão para adorar e oferecer sacrifícios a Deus. Foi lá que Deus disse que lhe concederia qualquer coisa pedida por ele (1 Crônicas 16:39; 21:29; 2 Crônicas 1:1-13; 1 Reis 3:4-5).

Gibeão era a cidade natal dos antepassados de Saul (1 Crônicas 8:29-30; 9:35-39). Foi lá que doze homens de Isbosete (filho de Saul) se envolveram em uma espécie de competição com doze homens de Davi, a qual se transformou em uma batalha sangrenta (2 Samuel 2:12-17). Ali ficava também a “pedra grande”, onde Joabe encontrou Amasa e o matou (2 Samuel 20:8). Depois, quando Davi envelheceu e Joabe fez a besteira de apoiar Adonias como sucessor do trono (contra Salomão), foi para lá que ele fugiu e se agarrou nas pontas do altar, mas sem êxito (1 Reis 2:28-34).

Quando chegamos ao nosso texto, já se passaram mais ou menos quatrocentos anos desde a aliança feita entre os líderes de Israel e os gibeonitas. Somos tentados a descartar esse pacto como história antiga, mas, de repente, nos deparamos com os gibeonitas surgindo de novo em 2 Samuel. Há três anos consecutivos a nação vem sofrendo com a fome, por isso Davi consulta o Senhor para saber por que Ele a enviou. Deus responde que é por causa do pecado de sangue de Saul e sua casa, um pecado contra os gibeonitas. Devido a uma percepção equivocada de lealdade para com os filhos de Israel e Judá, Saul e sua casa tinham dado início a um programa de extermínio dos gibeonitas. Sistematicamente eles começaram a eliminá-los, talvez envolvendo apenas algumas pessoas (o que incluía a sua família). Se ele planejou o extermínio dos gibeonitas, poderia muito bem ter executado a missão da sua própria casa em Gibeá. Não sabemos até onde ele foi com esse plano perverso, nem o que o impediu de completar sua tarefa.

As ações de Saul violaram a aliança de Israel com os gibeonitas, feita quatrocentos anos antes.2 A aliança foi uma atitude imprudente dos líderes de Israel. Os israelitas nunca deveriam tê-la feito. Mas fizeram; por isso, eram obrigados a cumpri-la. Foi por isso que Josué saiu em auxílio deles logo após ter feito o acordo. E então, alguns séculos mais tarde, Saul age de forma totalmente contrária ao passado. Ele começa a eliminar os gibeonitas, não muito diferente da maneira como Hamã procurou destruir os judeus (ver o livro de Ester). De alguma forma, Deus impede seu esquema sinistro de ter êxito. Até lermos sobre isso em nosso texto, não fazíamos a mínima ideia desse plano sanguinário. Mas agora, anos depois, Deus traz a fome sobre o território de Israel, levando Davi a investigar o assunto para fazer o que é certo.

O autor do texto não faz nenhum esforço para nos dar uma data precisa dos acontecimentos. Não sabemos quando ocorre esse período de fome na vida de Davi. Só sabemos que é após a morte de Saul e seus filhos. Quando chega, a fome se mantém durante três anos consecutivos. Não é uma coisa fortuita, mas algo que faz Davi sentir a mão de Deus. A aliança mosaica dizia que a fome viria das mãos de Deus como forma de julgamento pelo pecado (ver Deuteronômio 28:23-23; 2 Crônicas 6:26-31). Por isso, Davi consulta o Senhor sobre sua causa. A resposta de Deus é bem clara:

“A fome veio por causa de Saul e de sua família sanguinária, por terem matado os gibeonitas” (2 Samuel 21:1b, NVI).

Resolvi citar a resposta do Senhor com a versão King James (em português, a NVI), por acreditar que ela reflita com mais exatidão o texto hebraico: “É por causa de Saul e da [sua] casa sanguinária” (em português, “por terem matado”). Essa afirmação soluciona o que talvez pareça um problema nas outras traduções. Por que Davi executaria os filhos e netos de Saul por um mal cometido pelo próprio Saul? A lei de Moisés proibia punir os filhos pelos pecados dos pais:

“Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada qual será morto pelo seu pecado.” (Deuteronômio 24:16, ARA).

As palavras de Deus a Davi parecem salientar o fato de Saul não ter agido sozinho quando tentou aniquilar os gibeonitas. Ele precisava de ajuda, e quem melhor para isso do que a sua própria família? Se o sangue de algum gibeonita foi derramado pelas mãos deles ou não, eles deviam saber, por isso, tornaram-se cúmplices do seu plano hediondo.3

Eu achava que a motivação de Saul para eliminar os gibeonitas fosse interesseira. Afinal, ele vivia no território de Benjamim, e Gibeá de Saul não era muito distante de Gibeão. Talvez aquela terra tivesse sido da sua própria família. Mas o texto nos diz que ele fez isso por patriotismo equivocado. Ele “procurou destruí-los no seu zelo pelos filhos de Israel e de Judá” (verso 2). Como comentou um amigo meu após ouvir esta mensagem: “parece que Saul simplesmente não consegue fazer nada direito”. Ele não quis exterminar totalmente os amalequitas, a quem Deus ordenara matar (1 Samuel 15), e tentou exterminar os gibeonitas, aos quais não podia matar. Pensando em fazer um favor a Israel e Judá, Saul provoca a fome na terra.

Davi sabe que, de alguma forma, precisa fazer expiação pelo pecado de Saul e obter a bênção dos gibeonitas para Deus abençoar novamente Seu povo removendo a fome. Isso é realmente incrível. Os gibeonitas precisam “abençoar” Israel, o povo de Deus, para Deus abençoar novamente Israel. Parece quase a exata reversão da aliança abraâmica:

“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3)

Devido ao pecado de Saul e sua casa sanguinária, os gibeonitas tinham sofrido injustamente. Parece que eles clamaram a Deus por justiça, e uma maldição (a fome) caiu sobre Israel. Isso não acontece nos dias de Saul, mas depois (talvez porque Saul não teria tentado descobrir suas causas ou tomado as medidas necessárias para corrigir a situação). Agora, para solucionar o caso, é preciso fazer uma expiação (a execução de sete dos descendentes de Saul). Depois, os gibeonitas precisam abençoar os israelitas para Deus poder abençoar o Seu povo outra vez.

Davi chama os gibeonitas e lhes pergunta o que deve fazer para consertar a situação. A resposta deles é bem diferente da esperada. Talvez naquela época não houvesse advogados (desculpem o sarcasmo) para lhes dizer o quanto poderiam ganhar com a causa. Eles deixam claro que não querem dinheiro. Dinheiro não “expiará” o sangue derramado por Saul. As palavras ditas a seguir abrem caminho para o que eles realmente acham que poderá servir à causa da justiça: “nem tampouco pretendemos matar pessoa alguma em Israel” (verso 4). Não está em seu poder, como povo subjugado, executar os judeus. Davi percebe ser esse o seu desejo, por isso, pergunta-lhes o que querem, prometendo atender seu pedido.

Os gibeonitas dizem a Davi que, já que Saul destruiu alguns deles e pretendia matar a todos, será justo se sete de seus “filhos4 forem entregues a eles para execução. Eles os enforcarão “ao SENHOR, em Gibeá de Saul, o eleito do SENHOR” (verso 6). O enforcamento era a punição usada para crimes muito graves (ver Gênesis 40:19; Deuteronômio 21:22-23; Josué 8:29; 10:26). Os gibeonitas prometem enforcar os filhos de Saul “ao Senhor”. Parece-me que eles estão vendo esse assunto da maneira correta, cuidando em fazer a vontade de Deus de modo a satisfazê-lO (aplacando Sua ira), e a eles também. Eles farão a execução ao Senhor em Gibeá de Saul, a cidade de Saul.

Acho muito interessante os gibeonitas fazerem questão de se referir a Saul como “o eleito do Senhor”. Sem dúvida, essa era uma forma comum de se referir a ele, com a qual eles estavam familiarizados. Creio que isso é dito intencionalmente. Saul presumia que por ser “o eleito do Senhor” podia fazer qualquer coisa? Ele achava que isso o colocava num patamar especial, de forma que Deus ignoraria seus pecados? Não mesmo! O “eleito do Senhor” estava prestes a ter seus filhos executados bem na frente da sua própria cidade. Deus não desculpa ou ignora os pecados daqueles a quem escolheu. Ele não condenou os cananeus por seus pecados para depois tolerar esses mesmos pecados entre o Seu povo escolhido, Israel. Deus não tolerou os pecados de Davi e não iria tolerar os de Saul, seu “eleito”.

Algumas vezes os cristãos ficam um pouco confusos sobre esse ponto. Quando algum grupo árabe explode um prédio, matando pessoas inocentes, somos rápidos para condenar esse ato “terrorista” e clamar por justiça. Mas quando um grupo israelense faz a mesma coisa, nós achamos que foi em defesa própria ou uma retaliação justificada. Ser do povo escolhido de Deus não nos dá licença para pecar. Deus ouve o clamor dos oprimidos e julga o pecado, mesmo quando ele é cometido por um dos Seus “eleitos”.

“Se do teu próximo tomares em penhor a sua veste, lha restituirás antes do pôr-do-sol; porque é com ela que se cobre, é a veste do seu corpo; em que se deitaria? Será, pois, que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.” (Êxodo 22:26-27)

“Porque ele acode ao necessitado que clama e também ao aflito e ao desvalido.” (Salmo 72:12)

“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” (Tiago 5:4)

O julgamento de Deus pode não vir imediatamente, mas virá.

E assim, sete dos “filhos” de Saul são escolhidos. Mefibosete, o filho de Jônatas, é poupado devido à aliança de Davi com seu pai. Os dois filhos de Rispa5, concubina de Saul, são executados, junto com os cinco filhos de Merabe6, filha de Saul. Os gibeonitas pegam os sete homens e “os enforcam no monte, perante o SENHOR” (verso 9). A execução ocorre no início da sega da cevada.

Antes de passarmos para a conclusão da questão entre Israel e os gibeonitas, descrita nos versos 10 a 14, deixem-me fazer uma pausa para fazer algumas observações e aplicações com base naquilo que já vimos.

Nesta passagem somos relembrados da importância das alianças. Ao longo da história do Velho Testamento, e também do Novo, Deus sempre tratou com os homens por meio de alianças. Quando poupou Noé e sua família, Deus fez um pacto com eles e deu o arco-íris como sinal do pacto (Gênesis 9:1-17). Tempos depois, Deus fez uma aliança com Abraão, com um sinal correspondente, a circuncisão (Gênesis 12:1-3; 17:1-22). Então Deus fez aliança com Israel por intermédio de Moisés, e o sinal foi o sábado (Êxodo 19-20; 31:12-17; Deuteronômio 5). Deus fez aliança com Davi para edificar-lhe uma casa eterna (2 Samuel 7:12-17). Posteriormente, é claro, houve a Nova Aliança instituída por nosso Senhor Jesus Cristo por meio do Seu sangue derramado na cruz (Jeremias 31:31-34; Lucas 22:20; 1 Coríntios 11:25; 2 Coríntios 3:6; Hebreus 9:11-22). Deus não se relaciona com os homens de um jeito qualquer; Ele sempre trata conosco com base em uma aliança.

O problema de Davi com os gibeonitas, no fundo, é uma questão de manter a palavra. Israel tinha feito aliança com eles. Mesmo depois de quatrocentos anos, ela devia ser honrada. Saul quebrou-a quando tentou deixar a terra livre deles. Não interessa o quanto suas intenções pudessem ser boas, a aliança tinha de ser cumprida. Sua violação teve graves consequências. Custou a Saul e seus filhos suas vidas. Provocou a fome em Israel. Envolveu também outras alianças. Muitas das coisas descritas em nosso texto parecem cumprimento das advertências de Deus pela violação da aliança mosaica de Deuteronômio 28-30. Além disso, a aliança de Davi com Jônatas tinha de ser honrada, por isso Mefibosete não foi entregue aos gibeonitas.

Deus se relaciona com os homens em termos de alianças. O tempo não as enfraquece. Elas devem ser cumpridas. Mesmo quando os homens não as levam a sério, Deus leva. Ele espera que guardemos as nossas alianças:

“O que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata”. (Salmo 15:4)

Mesmo quando uma aliança é feita de forma imprudente, como a dos israelitas com os gibeonitas, Deus espera que a guardemos. Quantas vezes já assistimos a cerimônias de casamento onde um homem e uma mulher fazem votos matrimoniais e, poucos anos depois, um dos cônjuges (ou ambos) decide que o casamento não é como ele (ou ela) esperava. Eles acham que a pessoa com quem se casaram não é realmente quem pensavam que fosse. Por isso, sentem-se livres para quebrar seus votos e passar para outro relacionamento. Se Deus esperava que os israelitas mantivessem sua aliança com os gibeonitas, mesmo tendo sido enganados por eles, e mesmo após quatrocentos anos, como você pensa que Ele se sente sobre a violação dos votos matrimoniais? Não há dúvida quanto a isso:

“Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis.” (Malaquias 2:13-16)

Graças a Deus por Ele guardar Suas alianças. Ao longo da história de Israel, Seu povo escolhido endureceu a cerviz e desobedeceu Aquele que os salvou da escravidão do Egito. Como teria sido fácil para Deus lavar as mãos e deixar esse povo rebelde. Mas Ele manteve Sua aliança. Ele o fez trazendo adversidade sobre o Seu povo quando ele pecou (tal como a fome que sobreveio a Israel na época de Davi); mas também providenciando um Salvador, o qual guardou perfeitamente a aliança mosaica e cumpriu a aliança com Abraão e com Davi. Ele instituiu a Nova Aliança, pela qual o homem pecaminoso é salvo pela fé em Jesus Cristo e no Seu sangue, o qual foi derramado para fazer expiação pelo pecado dos homens.

Fico impressionado com tantos prenúncios do evangelho nesta história. Não só o texto nos lembra de que Deus se relaciona com os homens por meio de Suas alianças, mas acima de tudo ele nos fala da Nova Aliança. Os pecados de Saul precisavam ser expiados ou as bênçãos de Deus não poderiam ser desfrutadas. O pecado de Saul causou adversidade, na forma de uma fome. Dinheiro não podia expiar esse pecado, só derramamento de sangue. Foi o derramamento de sangue que propiciou a expiação e apaziguou a Deus e os gibeonitas.

Há quem pense no evangelho do Novo Testamento como sangrento demais (lembre-se: “testamento” é uma palavra antiga para aliança). O que mais poderia remover os nossos pecados? Seriam os nossos esforços para fazer boas obras? Será que o nosso dinheiro pode nos salvar? Só o derramamento de sangue expia o pecado:

“Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão.” (Hebreus 9:22)

Só o sangue de uma Pessoa pode nos salvar dos nossos pecados — o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, derramado na cruz do Calvário:

“no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1:7)

“Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.” (Efésios 2:13)

“porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” (Colossenses 1:19-20)

“Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hebreus 9:11-14)

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,” (1 Pedro 1:17-18)

Há uma passagem no livro de Apocalipse que sempre me deixa atônito:

“E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios.” (Apocalipse 14:20)

Esse texto descreve o derramamento da ira de Deus sobre aqueles que rejeitaram Jesus Cristo e se rebelaram contra Ele. Como a ira de Deus poderia ser descrita em termos mais sangrentos? Tanto sangue foi derramado que chegou até o freio dos cavalos — em mais de 300 km. Isso é inacreditável! Seria exagero poético ou deve ser entendido literalmente? Não tenho certeza, mas eu diria que isso indica o quanto os homens são pecaminosos e o quanto é grande a pena pelo pecado. Quanto sangue de culpa teria de ser derramado para expiar os pecados do mundo inteiro? Nunca seria o suficiente. Só o derramamento do sangue de nosso Senhor, Seu precioso sangue, é suficiente. Você já reivindicou esse Seu sangue derramado como base para o seu perdão?

A história de Saul, Davi e os gibeonitas nos ensina ainda mais. Ela nos lembra não só de que o pecado precisa ser expiado pelo derramamento de sangue, mas também de que, um dia, ele terá de ser pago. Não estou certo da razão pela qual Deus esperou até depois da morte de Saul e seus filhos para causar a fome em Israel, mas fico impressionado por esse pecado não ter sido esquecido. No tempo de Deus, Ele cuidou desse pecado, como Ele cuidará de todo pecado. Algumas pessoas parecem pensar que, se Deus não lidar imediatamente com o pecado, Ele nunca o fará; elas não conseguem compreender que a demora de Deus é uma manifestação da Sua graça, não uma garantia para os homens pecarem sem medo do julgamento (ver 2 Pedro 3:1-3).

Os gibeonitas parecem prenunciar a graça salvadora de Deus concedida aos gentios como parte do Seu plano eterno de salvação. Os gibeonitas eram pecadores, merecedores da ira de Deus. Foi a imprudência de Israel (para não dizer pecado) que os levou a fazer aliança com eles. Esses gentios condenados foram salvos por uma falha de Israel. E, a maravilha das maravilhas, será  por meio deles que Israel gozará novamente das bênçãos de Deus. Não é isso um prenúncio da forma como Deus levará a salvação aos gentios, e depois, por intermédio deles, abençoará os judeus? Peço que leiam os capítulos 9 a 11 de Romanos para ver como Paulo descreve essa maravilha.

Quando perceberam ter sido enganados pelos gibeonitas, os israelitas ficaram com muita raiva. Eles não podiam matá-los, pois a aliança acabara de ser feita, mas podiam “amaldiçoá-los”, tornando-os seus escravos, fazendo com que fossem cortadores de lenha e tiradores de água. Seria essa “maldição” uma maldição de fato? Não mesmo. Era uma grande bênção. Os gibeonitas foram privilegiados em ter parte na adoração do povo de Deus, cortando lenha para o altar e tirando água para o tabernáculo. Não é de admirar que eles, quatrocentos anos mais tarde, tenham uma percepção espiritual tão grande da vontade de Deus, de certo e errado, de expiação e justiça. Lembro-me de um salmo que diz:

“Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade.” (Salmo 84:10)

Quão gracioso foi Deus ao abençoar esses gentios, e por meio deles abençoar novamente Israel.

Rispa — Davi Corrige Mais Uma Coisa (21:10-14)

Então, Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de saco e o estendeu para si sobre uma penha, desde o princípio da ceifa até que sobre eles caiu água do céu; e não deixou que as aves do céu se aproximassem deles de dia, nem os animais do campo, de noite. Foi dito a Davi o que fizera Rispa, filha de Aiá e concubina de Saul. Então, foi Davi e tomou os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu filho, dos moradores de Jabes-Gileade, os quais os furtaram da praça de Bete-Seã, onde os filisteus os tinham pendurado, no dia em que feriram Saul em Gilboa. Dali, transportou os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu filho; e ajuntaram também os ossos dos enforcados. Enterraram os ossos de Saul e de Jônatas, seu filho, na terra de Benjamim, em Zela, na sepultura de Quis, seu pai. Fizeram tudo o que o rei ordenara. Depois disto, Deus se tornou favorável para com a terra.

Concordam comigo que essa história é muito estranha, mais até que o enforcamento dos “filhos” de Saul? Qual o motivo para o autor de Samuel registrar este incidente? Aonde ele queria chegar? Observe comigo, em primeiro lugar a história é tanto continuação quanto conclusão dos versos 1 a 9. É a execução dos filhos de Saul que faz Rispa agir, e depois Davi. A fome só termina depois do funeral de Saul e seus filhos (verso 14). Precisamos, então, tentar entendê-la dentro do contexto daquilo que já lemos e do capítulo como um todo.

Eis aqui Rispa, concubina de Saul, cujos filhos foram executados pelos gibeonitas. Aparentemente, seus corpos não foram removidos, como parece que deveriam ter sido (ver Deuteronômio 21:22-23). Quando eu estava lendo o Velho Testamento, deparei-me com um verso muito interessante:

“O teu cadáver servirá de pasto a todas as aves dos céus e aos animais da terra; e ninguém haverá que os espante.” (Deuteronômio 28:26)

Esse texto sugere que Rispa, de forma alguma, estava agindo normalmente. Qual mãe gostaria de ver os pássaros devorando a carcaça de seu(s) filho(s)? Uma vez que os corpos dos filhos de Saul ainda não tinham sido sepultados, essa mãe resolveu vigiá-los, ficando ali para poder espantar pássaros e animais selvagens. Davi soube disso, e por causa da atitude de Rispa, resolveu fazer alguma coisa. Os corpos eram de sete dos filhos de Saul, aos quais ainda não tinha sido dado um funeral apropriado. Davi lembrou-se de que Saul e seus três filhos7 também não tinham recebido um enterro adequado.

Vocês devem se lembrar de que Davi não teve nada a ver com o enterro precipitado de Saul e seus filhos, conforme descrito em 1 Samuel 31. Davi estava em Ziclague quando soube da morte de Saul. O corpo dele e os dos filhos foram levados pelos filisteus e pendurados no muro de Bete-Seã. Homens corajosos de Jabes-Gileade marcharam a noite inteira para roubá-los, queimá-los e enterrar seus ossos debaixo de um arvoredo em Jabes (31:11-13). Tudo foi feito na ausência de Davi. Saul e seus filhos ainda não tinham recebido um funeral adequado, embora seus corpos tenham sido resgatados da exposição vergonhosa feita pelos filisteus.

Aparentemente, pelo menos, é possível ver como Davi deve ter raciocinado. Os ossos dos sete filhos de Saul não tinham sido sepultados, isso levou Rispa a agir como agiu. O problema não seria “enterrado” até eles terem um funeral apropriado. Ao pensar nisso, talvez Davi tenha se lembrado de que Saul e seus três filhos também não tinham recebido um funeral digno. Para “enterrar o assunto” de vez, ele providencia para que os ossos de Saul e seus filhos sejam levados para o túmulo do pai de Saul, junto com os ossos dos sete homens executados. Uma vez sepultados, o caso estará encerrado, de uma vez por todas.

Tem mais alguma se passando também, eu acho. Há uma clara ligação entre a execução dos sete filhos de Saul pelos gibeonitas, as ações de Rispa e as medidas tomadas por Davi. Creio que o elo de ligação não seja só o fato de tudo estar relacionado a Saul e à falta de um sepultamento adequado. O que esses sete homens têm em comum com Saul e seus três filhos? Todos são filhos de Saul. E todos foram “pendurados”. Creio que posso inferir disso que Davi percebe a conexão entre Saul e os três filhos, os quais foram mortos e depois pendurados, e os outros sete filhos, os quais foram enforcados em público devido a tentativa de extermínio dos gibeonitas. Não seriam aquelas mortes e estes enforcamentos expiação pelo mesmo pecado? Quando Davi sepulta todos os “filhos” no túmulo do pai de Saul, ele não só lhes dá um enterro decente, mas também parece ligá-los ao mesmo pecado e ao mesmo julgamento. Esta é a única maneira de eu poder entender a razão pela qual o autor do texto dá tanta ênfase às ações de Rispa e à atitude de Davi. Pelo menos, podemos dizer que o assunto agora parece ter sido encerrado.

Mais um fato deve ser observado. As palavras finais do verso 14 são muito importantes: “Depois disto, Deus se tornou favorável para com a terra”. Talvez esperássemos ler algo como: “E então Deus retirou a fome que atormentava a terra há três anos”. Em vez disso, lemos que Deus, depois de expiado o pecado, ouve novamente as orações do povo suplicando-Lhe para cessar o julgamento imposto sobre a terra. Em outras palavras, o povo devia estar orando para Deus retirar a fome há três anos, mas Deus não atendia suas petições por causa do pecado de Saul e de sua casa sanguinária. Uma vez expiado o pecado, Deus ouve novamente as preces do povo. Deus é soberano, mas com frequência Ele age em resposta aos meios designados por Ele. Neste caso, o meio é a oração do Seu povo. Repare no que Salomão dirá alguns anos mais tarde:

“Quando os céus se cerrarem, e não houver chuva, por ter o povo pecado contra ti, e ele orar neste lugar, e confessar o teu nome, e se converter dos seus pecados, havendo-o tu afligido, ouve tu nos céus, perdoa o pecado de teus servos e do teu povo de Israel, ensinando-lhes o bom caminho em que andem, e dá chuva na tua terra que deste em herança ao teu povo. Quando houver fome na terra ou peste, quando houver crestamento ou ferrugem, gafanhotos e larvas, quando o seu inimigo o cercar em qualquer das suas cidades ou houver alguma praga ou doença, toda oração e súplica, que qualquer homem ou todo o teu povo de Israel fizer, conhecendo cada um a sua própria chaga e a sua dor, e estendendo as mãos para o rumo desta casa, ouve tu dos céus, lugar da tua habitação, perdoa e dá a cada um segundo todos os seus caminhos, já que lhe conheces o coração, porque tu, só tu, és conhecedor do coração dos filhos dos homens; para que te temam, para andarem nos teus caminhos, todos os dias que viverem na terra que deste a nossos pais.” (2 Crônicas 6:26-31)

Deus responde a oração. Neste caso, o autor do texto de 2 Samuel ressalta o fato de que Ele retira a fome porque atende as orações do Seu povo. E Ele atende porque o pecado que as impedia foi expiado. Precisamos entender bem esse ponto que o autor procura ressaltar: O pecado atrapalha as nossas orações, mas quando ele é tratado, Deus atende a nossa súplica. Não subestimemos a importância da oração.

Mais Guerras com os Filisteus e Mais Golias (21:15-22)

De novo, fizeram os filisteus guerra contra Israel. Desceu Davi com os seus homens, e pelejaram contra os filisteus, ficando Davi mui fatigado. Isbi-Benobe descendia dos gigantes; o peso do bronze de sua lança era de trezentos siclos, e estava cingido de uma armadura nova; este intentou matar a Davi. Porém Abisai, filho de Zeruia, socorreu-o, feriu o filisteu e o matou; então, os homens de Davi lhe juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja, para que não apagues a lâmpada de Israel. Depois disto, houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os filisteus; então, Sibecai, o husatita, feriu a Safe, que era descendente dos gigantes. Houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os filisteus; e Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu a Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de tecelão. Houve ainda outra peleja; esta foi em Gate, onde estava um homem de grande estatura, que tinha em cada mão e em cada pé seis dedos, vinte e quatro ao todo; também este descendia dos gigantes. Quando ele injuriava a Israel, Jônatas, filho de Simeia, irmão de Davi, o feriu. Estes quatro nasceram dos gigantes em Gate; e caíram pela mão de Davi e pela mão de seus homens.8

Parece que as coisas ficam ainda mais estranhas quando chegamos ao final do capítulo 21. Primeiro o pecado de um homem morto e sua casa sanguinária resultam na execução de sete de seus filhos. Quando esses homens são executados, seus corpos ficam expostos, de modo que a mãe de dois deles fica por perto para não deixar pássaros e animais selvagens se alimentarem deles. Davi, então, desenterra os ossos de Saul e seus filhos e os sepulta no túmulo do pai de Saul, junto com os corpos dos sete executados. Agora, para finalizar o assunto, lemos sobre as batalhas com os filisteus, onde o ponto alto é a aparição de uma porção de descendentes de Golias, tão terríveis e mortais quanto ele.

Mais uma vez não temos o período exato onde encaixar esses acontecimentos. Sabemos apenas que os filisteus estão atacando Israel e Davi lidera seus homens contra eles. No decorrer da batalha, Davi acaba ficando muito cansado, e Isbi-Benobe, um dos soldados filisteus, percebe suas condições e decide tirar o máximo proveito da situação. Ele é descendente dos gigantes, com armas muito parecidas com as de seu predecessor, Golias. Entre elas há uma lança nova, a qual ele espera estrear tirando o sangue do rei de Israel.

Quem mais está lá para socorrer Davi, senão Abisai, irmão de Joabe e do falecido Asael, todos filhos de Zeruia, irmã de Davi (2 Samuel 2:18)? Esse é o mesmo camarada que acompanhou Davi ao acampamento de Saul, oferecendo-se para matá-lo de um só golpe (1 Samuel 26:6-8). Ele também deu uma mãozinha a Joabe no assassinato de Abner (2 Samuel 3:30). Em algumas ocasiões, ele comandou uma das divisões do exército de Davi (2 Samuel 10:10; 18:2). Por duas vezes ele quis acabar com Simei pelas ofensas ditas contra Davi quando este fugia de Absalão (2 Samuel 16:9-12; 19:21-22). Ele também foi o cabeça de trinta valentes que enfrentou trezentos homens só com sua espada e matou a todos eles. Ele foi um herói de renome em Israel (2 Samuel 23:18). Muito embora Davi possa ter tido algumas decepções com ele — e talvez nem goste dele — certamente Davi fica em débito com Abisai.

O incidente deixa o exército de Davi perturbado, da mesma forma que talvez o deixe incomodado. Eles quase perdem seu rei na batalha. Quando Davi saía à guerra, ele ia à frente dos homens. Portanto, era o alvo principal, sobretudo dos campeões do exército inimigo (ver 1 Reis 22:29-33). Uma coisa é perder um soldado na guerra; outra, completamente diferente, é perder o rei. Desta vez Davi é salvo por Abisai, mas e na próxima? A época áurea de Davi já passou; ele não é mais o homem de guerra de antigamente. Seus homens não querem perdê-lo como rei, por isso, insistem para ele não sair mais à guerra com eles.

O parágrafo seguinte, versos 18 a 22, vem na sequência dos versos 15 a 17. Na batalha anterior com os filisteus, Davi foi atacado por um dos descendentes de Golias e quase foi morto. Os soldados decidiram que ele não iria mais acompanhá-los na guerra. Mas como poderiam vencer sem seu matador de gigantes? Davi era essencial para a vitória de Israel contra os filisteus? Os versos 18 a 22 nos dão a resposta. Nas batalhas subsequentes9, surgem outros descendentes de Golias, os quais também são mortos. Um deles é Safe, que é ferido por Sibecai, o husatita (verso 18). Depois, na batalha de Gobe, Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, mata Golias, o geteu10 (verso 19).

O último descendente de Golias á guardado para o final, e não é de admirar. Esse camarada não só intimida os adversários por seu tamanho, mas também por suas extremidades. Dá para imaginar se ele fosse da linha ofensiva do Denver Broncos (time de futebol americano dos Estados Unidos), e você da linha defensiva do outro time? Os dois se abaixam, preparando-se para o chute da bola. Você olha para o chão e repara nas mãos dele. Aí começa a contar os dedos… um… dois… três… quatro… cinco…………. seis? E então olha para a outra mão, e depois para os pés. Mas que visão sinistra! No entanto, Jônatas, filho de Simeia, irmão de Davi, também põe o gigante abaixo. Ele não cai de quatro; cai de vinte e quatro…  Se pelas mãos de Davi ou por um de seus homens, todos eles caem diante do exército de Israel.

Conclusão

Por que estas histórias estão aqui, principalmente quando parecem estar fora da ordem cronológica, perto do fim do livro?11 Permitam-me fazer algumas observações, para depois tirar algumas aplicações.

Primeiro, o texto me faz lembrar das palavras do Senhor, registradas em Mateus:

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo.” (Mateus 5:21-26)

Devo confessar que a relação desta passagem com o nosso texto não me ocorreu até o comentário de um irmão chamar minha a atenção, e com razão, creio eu. Certamente seria muito bom meditarmos nas lições do Senhor sobre ódio e assassinato, mas não é disso que vou falar. Gostaria de salientar a relação que nosso Senhor faz entre a ofensa a um irmão e a nossa adoração. Nosso Senhor nos ensina a primeiro por em ordem as nossas injustiças para depois começar a nossa adoração. O texto de 2 Samuel nos ensina algo muito parecido. Até o erro de Saul e sua casa contra os gibeonitas ser corrigido, Deus não derrama Suas bênçãos sobre a terra (por isso há fome). Quando a injustiça é reparada, as bênçãos de Deus voltam, e Ele ouve novamente as súplicas do povo para eliminar a fome.

Segundo, devo lembrar que o autor deste livro é altamente qualificado, especialista naquilo que se propõe a fazer. Se fico confuso com o que estou lendo, não é por falha do autor, mas porque ainda não consegui compreender o que ele se propôs a fazer — e fez. Neste trecho, ele não segue uma linha de tempo cronológica, mas trabalha cuidadosamente um tema, e é minha tarefa estudar o capítulo e descobrir qual é esse tema.

Terceiro, vejo uma certa ênfase no texto sobre a nova geração. Saul já saiu de cena, assim como seus filhos. São esses filhos que poderiam desafiar Salomão, filho de Davi, pelo trono. Mas Deus, na Sua providência, retirou-os da história. Davi se aposenta da carreira militar e não vai demorar a se retirar do trono, dando lugar a seu filho, Salomão. Rispa demonstra uma preocupação especial com os corpos dos filhos, protegendo-os dos pássaros e animais selvagens. E Golias, mesmo morto, é sucedido por seus descendentes, os quais continuam a andar nos passos (extragrandes) do pai. Parece que estamos passando de uma geração para outra.

Quarto, há uma sensação muito clara de fechamento neste capítulo. Se pensarem nisso, o capítulo descreve o fim da carreira militar de Davi. Ainda não é o final do seu reinado sobre Israel, mas é o fim de sua carreira militar. Ele não sairá mais para lutar junto com seus homens (verso 17). Sua carreira começou, como devem se lembrar, com o confronto com Golias e a vitória sobre os filisteus (1 Samuel 17). O início foi a derrota de Golias e do exército filisteu. O fim de sua carreira é um confronto final com um dos descendentes de Golias e a derrota dos filisteus.

Vocês já viram como um atleta profissional se “aposenta”? Eles só não querem é se aposentar depois de uma temporada ruim. Eles querem parar enquanto ainda estão por cima. Eu entendo isso. É melhor sair com um grito de triunfo do que com um gemido de derrota. Creio que podemos concordar que Davi saiu tão bem como qualquer outra pessoa. É bem verdade que ele precisou de uma certa ajuda para acabar com Isbi-Benobe, mas o sujeito foi morto e os filisteus foram derrotados.

O sucesso na forma como estou pensando deve ser visto em maior escala. Quando os israelitas exigiram um rei, era para poderem ter alguém lutando suas batalhas e liderando-os na guerra, principalmente contra os filisteus (1 Samuel 8:19-20; 9:16). O que farão agora, se Davi não é mais capaz de estar à sua frente?

A resposta é linda, mas deixem-me retroceder um pouco no tempo. Quando a primeira geração de israelitas teve a chance de conquistar Canaã, eles não conseguiram por terem ficado com medo dos gigantes que disseram haver na terra (Números 13:25-33). Quando estavam sendo ameaçados pelos filisteus, Golias era o campeão que aterrorizada o exército de Israel. Davi se apresentou e matou Golias, e os filisteus foram derrotados. Mas agora Davi não pode mais lidar com os “Golias” levantados pelos filisteus contra ele. Isso significa que Israel está em apuros? Não mesmo! A liderança de Saul não conseguiu produzir ninguém para enfrentar Golias, incluindo o próprio Saul. Mas a liderança de Davi gerou muitos valentes homens de guerra. Davi não pode mais lutar? Sem problemas. Os rapazes fazem fila para enfrentar todos os Golias levantados pelo exército filisteu contra eles. E assim os descendentes de Golias são mortos e o exército filisteu é derrotado. Que maneira de encerrar a carreira militar de Davi! O povo não precisa mais de um rei para lutar por eles; eles mesmos estão dispostos a lutar, mesmo contra os descendentes de Golias. Isso é o que eu chamo de aposentadoria em grande estilo.

Há também uma sensação de conclusão de coisas inacabadas, coisas não resolvidas pela administração de Saul, mas agora corrigidas por Davi. O pecado de Saul e sua casa sanguinária contra os gibeonitas é expiado, e a terra pode novamente desfrutar das bênçãos de Deus. Não só os sete “filhos” de Saul recebem um funeral adequado, mas também Saul e seus filhos, os quais tinham sido sepultados às pressas em Jabes-Gileade. E o exército de Israel atinge um ponto em que não precisa mais de Davi para lutar suas batalhas por eles, ou mesmo com eles. Há muitos valentes capazes de fazer o que Davi não pode mais fazer.

Para mim, essa é uma lição muito importante sobre liderança. Com frequência as pessoas querem líderes para trabalhar por elas. A grandeza e a contribuição de um líder são julgadas pelo tamanho do buraco deixado por ele ao sair. Em termos bíblicos, isso deveria ser uma ofensa para o líder temente a Deus. A tarefa dos líderes não é fazer tudo, mas facilitar o ministério, treinar, equipar e incentivar outras pessoas a substituí-los e até mesmo a serem melhores que eles. Se liderança cristã deve ser assim, então Davi foi um grande líder. Sob o comando de Saul, ninguém estava disposto a enfrentar Golias. No ministério de Davi, muitos se dispuseram a isso e foram capazes disso. Agora Davi está livre para se afastar (primeiro como comandante das forças militares e depois como rei), pois ele fez um trabalho muito bem feito — e ajudou a criar um nível subalterno de liderança que está pronto para assumir o seu lugar. A maioria dos ditadores temem o fato de haver outros como eles, e tentam eliminá-los porque os vêem como concorrentes. Esse não é o caso com Davi. E não deveria ser assim com nenhum de nós.

 

Extraído do site : https://bible.org/node/22658  – Tradução: Mariza Regina de Souza     

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Para saber mais a respeito do autor: https://bible.org/users/bob-deffinbaugh  

1 O termo “cananeus” é usado tanto em sentido mais estrito como de forma mais ampla quando se refere de modo geral aos habitantes de Canaã. Aqui parece acontecer a mesma coisa com o termo “amorreus”. O autor de Samuel parece usar o termo no sentido geral.

2 Em 1 Samuel 15:7, vemos que Saul se lembra de que os queneus ajudaram Israel na época do Êxodo, e por isso ele os poupa quando ataca os amalequitas. Será que ele simplesmente se esquece da aliança entre Israel e os gibeonitas? É difícil de acreditar.

3 Existe, é claro, uma questão dolorosa a respeito da relação de Jônatas com tudo isso. Ele não parece ter sido alguém que compactuaria com esse pecado, nem que manteria silêncio sobre isso se soubesse. Simplesmente não sabemos.

4 Aqui “filhos” é usado em sentido mais amplo, como em outros lugares, para incluir os cinco filhos de Merabe, os quais, na verdade, são netos de Saul.

5 Rispa é a concubina com quem Abner dormiu após a morte de Saul. Quando Isbosete o confrontou sobre isso, Abner transferiu sua lealdade para Davi (ver 2 Samuel 3:7 e ss).

6 Há algumas ironias muito estranhas aqui. Merabe era a filha mais velha de Saul, e Mical, a mais nova (1 Samuel 14:49). Saul ofereceu a primeira a Davi e depois retirou a oferta (1 Samuel 18:17-19). Mical, então, foi dada a Davi como esposa (1 Samuel 18:27) e depois tomada e dada a outro homem (1 Samuel 25:44);  posteriormente ela voltou para Davi por insistência deste (2 Samuel 3:13-16). Ela nunca lhe deu filhos (2 Samuel 6:23), por isso, não foi envolvida na agonia de perdê-los.

7 O autor menciona somente Saul e Jônatas, mas em 1 Samuel 31 está escrito que ele e seus três filhos foram mortos. Presumo, então, que não é só Saul e Jônatas que têm um funeral apropriado, mas todos os três filhos.

8 Veja a passagem paralela em 1 Crônicas 20:4-8.

9 Observe o “depois disto” no verso 18.

10 O nome “Golias” não apresenta muitos problemas para nós. Acabamos de ler sobre dois Mefibosetes nos início do capítulo (versos 7 e 8). Esse Golias talvez tenha recebido o nome de seu pai, mas a passagem paralela de 1 Crônicas 20:5 o chama de “Lami, irmão de Golias”.

11 Por “este livro” estou me referindo ao único livro de Samuel do Velho Testamento hebraico, o qual está dividido em 1 e 2 Samuel na nossa Bíblia.

Salmo 51:1-19

Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.
Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.
Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades.
Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.
Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.
Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.
Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.
Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça.
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor.
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos.
Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.
Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém.
Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar.

Salmos 51:1-19

..:. pensamentos .:..

O apóstolo Paulo escreveu: As pessoas que vivem de acordo com a natureza humana têm a sua mente controlada por essa mesma natureza. Mas as que vivem de acordo com o Espírito de Deus têm a sua mente controlada pelo Espírito. As pessoas que têm a mente controlada pela natureza humana acabarão morrendo espiritualmente; mas as que têm a mente controlada pelo Espírito de Deus terão a vida eterna e a paz.
Romanos 8:5-6 NTLH

Mar do Esquecimento – by Vanessa Lampert

Olhando as estatísticas deste blog (blog da autora http://sossegai.blogspot.com), me deparei com as palavras-chave mais utilizadas para chegar até aqui. Curiosamente um número relativamente grande de pessoas procuraram no google “mar do esquecimento”, “qual livro da Bíblia fala sobre mar do esquecimento”, “onde está o versículo que diz que Deus lança nossos pecados no mar do esquecimento”, “mar do esquecimento está na Bíblia?”, entre outras coisas semelhantes.

Curioso imaginar que tanta gente faça esse tipo de pesquisa. Talvez alguém tenha lhe dito: “ih, mar do esquecimento nem está na Bíblia”, na intenção de mostrar que a pessoa está sendo ludibriada, ou ela mesma quer provar aos cristãos que eles inventam coisas, ou quem sabe seja alguém genuinamente preocupado em saber se seus pecados serão realmente lançados no mar do esquecimento, pois quer ser perdoado por Deus.

Em todo caso, achei que seria pertinente escrever sobre isso aqui, para que, seja qual for a intenção da busca, quem chegar aqui encontre uma resposta a respeito do tal “mar do esquecimento”.

Costumamos dizer que Deus lança nossos pecados no mar do esquecimento, e deles não se lembra mais, quando realmente nos arrependemos de nossos erros e pedimos a Ele perdão sincero. Isso é verdade. Mas se você busca o termo completo “mar do esquecimento” na Bíblia, o encontra? Vou explicar a origem desse termo.

Em Miquéias 7:18,19 diz: “Quem, oh Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquiadades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.”

Esta passagem maravilhosa fala a respeito do caráter misericordioso de Deus. Mesmo no Antigo Testamento, antes do tempo da Graça, Deus não era o ser cruel e implacável que muita gente até hoje acredita que Ele é (essas pessoas, obviamente, não o conhecem). Quando diante do verdaeiro arrependimento, Ele não pensa duas vezes antes de perdoar a iniquidade e esquecer da transgressão do Seu povo. Volta a ter compaixão de nós e lança nossos pecados nas profundezas do mar.

Em Isaías 43:2 o próprio Deus diz: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro”

Não me lembro de ter lido o termo exato “mar do esquecimento”, mas como a pessagem de Miquéias diz que Deus esquece de nossas transgressões e lança todos os nossos pecados nas “profundezas do mar”, Isaías diz que Ele não se lembra de nossos pecados, e já sabendo que Deus não tem nenhum problema crônico de memória, e sabendo também que nenhuma expedição submarina encontrou toneladas de pecados incrustados de corais no fundo do mar, entendemos, de uma forma até mesmo bem poética, que este é o “mar do esquecimento”.

Deus, que não se esquece de nada, pois é perfeito (e não, não tem problemas de memória), se permite não lembrar, ignorar, todos os nossos pecados, nos dando a chance de, diante dEle, começar de novo. O “mar do esquecimento” é, então, figura do grande perdão de Deus. Quando você lança algo nas pofundezas do mar, teoricamente aquilo nunca mais será encontrado (não entremos na discussão sobre as expedições submarinas existentes hoje. Quem, em sã consciência, sairia em busca de pecados submersos??? Só se procura algo que tenha valor. Se você jogar uma coisa insignificante no fundo do oceano – acredite – ninguém irá ver, nem procurar), nem visto.

Quando pensamos em “perdoar”, geralmente não temos em mente essa idéia de desaparecer com aquela iniquidade. Perdoamos nossos irmãos, mas sempre podemos visualizar o que nos fizeram. O perdão, humanamente falando, não costuma estar atrelado ao esquecimento. Mas o perdão divino inclui o desaparecimento daquela iniquidade. Deus a lança em um lugar de onde ela nunca mais voltará e no qual ela não poderá mais ser vista por Ele. Por isso o reforço nesta idéia de esquecimento, dizendo que Ele lança nossos pecados nas profundezas do mar.

Não me interessa saber se o mar do esquecimento existe ou não, não faz a menor diferença, pois de qualquer maneira o Mar do Esquecimento é uma metáfora que me faz ver o quanto Deus é maravilhoso, a ponto de escolher não se lembrar dos meus erros, quando eu realmente me arrependo e peço perdão a Ele, decidindo nunca mais cometer aquele pecado.

E se Deus é tão misericordioso a ponto de escolher se esquecer de meus pecados, quem sou eu para ficar me torturando ao me lembrar deles, dando ouvidos ao diabo, que é o acusador? E também se Deus, o Criador, o único Santo e puro, que é o principal ofendido pelos pecados dos homens, escolhe não se lembrar mais do erro de alguém, quem sou eu para apontar o dedo e julgar uma pessoa por atos que ela cometeu no passado, e dos quais já se arrependeu? Sou eu maior do que Deus?

Além de mostrar a grandeza de Deus e o caráter perdoador do nosso Senhor, essas passagens deixam claro que o homem deve ser grato por essa misericórdia e recolher-se à sua insignificância, deixando essa mania arrogante de querer se apegar às picuinhas para tentar provar que está certo e que Deus – veja só – está errado.

Ainda escreverei novamente sobre pecado, arrependimento e perdão. Espero ter esclarecido as dúvidas do pessoal do Mar do Esquecimento. 🙂

VANESSA LAMPERT – http://sossegai.blogspot.com

Todos os direitos reservados a autora do texto.

Como Evitar Desequilíbrios Religiosos – Arthur W. Pink

Vigilância, oração, autodisciplina e aquiescência inteligente aos propósitos de Deus são indispensáveis para qualquer progresso real na santidade. Existem certas áreas de nossas vidas em que os nossos esforços para sermos corretos nos podem conduzir ao erro, a um erro tão grande que leva à própria deformação espiritual. Por exemplo:

1. Quando, em nossa determinação de nos tornarmos ousados, nos tornamos atrevidos. Coragem e mansidão são qualidades compatíveis; ambas eram encontradas em perfeitas proporções em Cristo, e ambas brilharam esplendidamente na confrontação com os seus adversários. Pedro, diante do sinédrio, e Paulo, diante do rei Ágripa, demonstraram ambas essas qualidades, ainda que noutra ocasião, quando a ousadia de Paulo temporariamente perdeu o seu amor e se tornou carnal, ele houvesse dito ao sumo sacerdote: “Deus há de ferir-te, parede branqueada”. No entanto, deve-se dar um crédito ao apóstolo, quando, ao perceber o que havia feito, desculpou-se imediatamente (At 23.1-5).

2. Quando, em nosso desejo de sermos francos, tornamo-nos rudes. Candura sem aspereza sempre se encontrou no homem Cristo Jesus. O crente que se vangloria de sempre chamar de ferro o que é de ferro, acabará chamando tudo pelo nome de ferro. Até o fogoso Pedro aprendeu que o amor não deixa escapar da boca tudo quanto sabe (1 Pe 4.8).

3. Quando, em nossos esforços para sermos vigilantes, ficamos a suspeitar de todos. Posto que há muitos adversários, somos tentados a ver inimigos onde nenhum deles existe. Por causa do conflito com o erro, tendemos a desenvolver um espírito de hostilidade para com todos quantos discordam de nós em qualquer coisa. Satanás pouco se importa se seguimos uma doutrina falsa ou se meramente nos tornamos amargos. Pois em ambos os casos ele sai vencedor.

4. Quando tentamos ser sérios e nos tornamos sombrios. Os santos sempre foram pessoas sérias, mas a melancolia é um defeito de caráter e jamais deveria ser mesclada com a piedade. A melancolia religiosa pode indicar a presença de incredulidade ou pecado, e, se deixarmos que tal melancolia prossiga por muito tempo, pode conduzir a graves perturbações mentais. A alegria é a grande terapia da mente. “Alegrai-vos sempre no Senhor” ( Fp 4.4).

5. Quando tencionamos ser conscienciosos e nos tornamos escrupulosos em demasia. Se o diabo não puder destruir a consciência, seus esforços se concentrarão na tentativa de enfermá-la. Conheço crentes que vivem em um estado de angústia permanente, temendo que venham a desagradar a Deus. Seu mundo de atos permitidos se torna mais e mais estreito, até que finalmente temem atirar-se nas atividades comuns da vida. E ainda acreditam que essa auto-tortura é uma prova de piedade.

Enquanto os filósofos religiosos buscam corrigir essa assimetria (que é comum à toda raça humana), pregando o “meio-termo áureo”, o cristianismo oferece um remédio muito mais eficaz. O cristianismo, estando de pleno acordo com todos os fatos da existência, leva em consideração este desequilíbrio moral da vida humana, e o medicamento que oferece não é uma nova filosofia, e sim uma nova vida. O ideal aspirado pelo crente não consiste em andar pelo caminho perfeito, mas em ser conformado à imagem de Cristo.

Mantendo a fome pela presença de Deus

“Mantendo a fome pela presença de Deus depois de 21 dias de jejum”Entenda como é importante manter a fome pela presença do Senhor, buscando mais intimidade com Ele e atraindo a Sua glória.

“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; disse a toda congregação de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do Senhor, nosso Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levitas com eles nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela. Então, toda a congregação concordou em que assim se fizesse; por isso pareceu justo aos olhos de todo o povo. Reuniu, pois, Davi a todo o Israel, desde o Sior do Egito até a entrada de Hamate, para trazer a arcada de Deus de Quiriate-Jearim. Então, Davi, com todo o Israel, subiu a Baalá, isto é, a Quiriate-Jearim, que está em Judá, para fazer subir dali a arca de Deus, diante da qual é invocado o nome do Senhor, que se assenta acima dos querubins. Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe; e Uzá e Aiô guiavam o carro. Davi e todo o Israel alegravam-se perante Deus, com todo o seu empenho; em cânticos, com harpas, com alaúdes, com tamboris, com címbalos e com trombetas.

Quando chegaram à eira de Quidom, estendeu Uzá e o feriu, por ter estendido a mão à arca; e morreu ali perante Deus. Desgostou-se Davi, porque o Senhor irrompera contra Uzá; pelo que chamou àquele lugar Perez-Uzá, até ao dia de hoje. Temeu Davi a Deus, naquele dia, e disse: Como trarei a mim a arca de Deus? Pelo que vi Davi não trouxe a arca para si, para a cidade de Davi; mas a fez levar à casa de Obede-Edom, o geteu. Assim, ficou a arca de Deus com a família de Obede-Edom, três meses em sua casa; e o Senhor abençoou a casa de Obede-Edom e tudo que ele tinha.” (1Cr 13.1-13.)

Veja só esta frase no verso 12: “Temeu Davi ao Senhor naquele dia, e disse: ‘Como trarei a mim a arca’”. Já o Livro dos Atos (At 15.16) nos diz: “Cumpridas essas cousas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi, e levantando-o de suas ruínas restaurá-lo-ei”. A vontade de Deus, portanto, é restaurar o tabernáculo de Davi. No Velho Testamento existiram outras construções extraordinárias, esplêndidas. O tabernáculo de Moisés foi a primeira construção sagrada dos hebreus, designada, ou melhor, direcionada pelo próprio Deus, que instruiu como se faria o tabernáculo. No entanto, não vemos em lugar algum que Deus deseje restaurar o tabernáculo de Moisés. Sabemos que Salomão, filho de Davi, edificou o templo. O templo nada mais era do que o tabernáculo com dimensões ainda mais extraordinárias. Era uma grande maravilha, portentoso, maravilhoso, algo de fato grandioso! Todavia, no Novo Testamento, vemos Jesus dizendo que não ficaria pedra sobre pedra daquele templo, mas Jesus não disse que depois aquele templo seria restaurado novamente. Entretanto, no Livro dos Atos, vemos que a vontade de Deus é restaurar o tabernáculo de Davi. Por que Deus deseja restaurar o tabernáculo de Davi? Por que esse tabernáculo foi especial para Deus? O motivo é muito simples. Por que esse tabernáculo de Davi foi fruto de uma paixão, de um desejo, de uma ânsia genuína pela presença de Deus. O tabernáculo de Davi não foi fruto produto de um ritual ou da orientação explícita de Deus e é isso o que o torna mais extraordinário! Deus não disse para Davi que queria um tabernáculo novo, nem lhe deu modelo algum, mas Davi, de alguma maneira que nos escapa, de uma maneira misteriosa, foi capaz de perceber o que estava no coração de Deus.

Quantos de nós estamos sinceramente interessados no coração de Deus? Não devemos, portanto, limitar o Deus a quem servimos. Eu tenho visto o que Deus pode fazer em uma igreja, a minha ambição agora é saber o que Deus pode fazer em minha cidade. Da mesma forma, sua cidade será tocada pelo Senhor e Ele que usá-lo como instrumento para isso. No trecho do Primeiro Livro das Crônicas que lemos no início deste capítulo, Davi nos mostra que não é tão simples trazer a glória de Deus, e mais ainda, não é tão simples mantê-la. Se a glória de Deus estiver em nosso meio, ela atrairá as pessoas; mas, se a luz não está entre nós, nada acontecerá. O grande desafio não é fazer nada a primeira vez. Sei que as pessoas têm medo de fazer as coisas pela primeira vez, dar aula, pregar, fazer encontros etc. Não tenho receio com a primeira vez de alguma coisa, pois, apesar da inexperiência e da falta de prática, sempre será bom, Deus sempre abençoará. O que não é abençoada em grande parte não é a primeira vez, mas sim a décima, a quinquagésima, a centésima. É isso que é sério e difícil de manter. O texto fala que, nos dias de Saul, o povo não se valeu da arca, o que nos fala de ficar experiente, independente de Deus, achando que se pode fazer sozinho. Estes são dias de começarmos de novo, recomeçarmos como igreja e de retomarmos a nossa própria paixão original, o nosso primeiro amor. Depois de grandes vitórias é que acontecem os maiores fiascos, as maiores derrotas! Deus tem muito mais e não há limites para Ele. O Senhor é um oceano. Nós somos como conta-gotas à beira da praia, não há risco de esvaziarmos a Deus, Ele sempre tem mais. Se quisermos medidas maiores de Deus, temos que retomar os princípios.

1. A intimidade traz a bênção, mas o inverso não ocorre

Davi não estava preocupado em buscar a bênção de Deus. Ele não queria ter mais ouro em Jerusalém, mais casas, mais vitórias na guerra. Em lugar algum do texto vemos Davi com essa motivação. Todavia, vemos um clamor em seu coração sobre como ele iria trazer a arca de Deus. O tabernáculo tinha três partes: o átrio, o lugar santo e o santo dos santos. A arca simbolizava a presença manifesta do Senhor e ficava no lugar mais íntimo e secreto do tabernáculo, o santo dos santos, onde somente o sacerdote, uma vez ao ano, no dia da expiação, podia entrar para aspergir o sangue em cima da arca. Sobre ela, dois querubins de ouro maciço, com as asas abertas, de frente um para o outro e, no meio deles, a chama da glória de Deus brilhava. Era ali, onde o sangue era aspergido, que Deus falava com os homens, com Moisés e, uma vez ao ano, com o sumo sacerdote. E Davi queria essa arca. Você quer prosperidade de Deus? Busque a Deus! Ponha a arca de Deus no seu trabalho, no seu casamento, na sua empresa, busque a intimidade com o Todo-Poderoso, pois, quando você toca o céu, a terra é abalada. Quando você toca em Deus, você toca em todas as bênçãos, pois todas elas estão em Cristo Jesus. Aquela arca não era mais do que um símbolo da presença manifestada do Senhor Jesus. Deus, em sua onipresença, está presente em todo lugar, mas a sua glória está reservada para aqueles que lhe são íntimos, que anseiam pela sua presença. É esse o meu desafio a você. Muitos procuram bênçãos, prosperidade, dinheiro etc., mas quantos estão procurando a glória de Deus, a arca de Deus? Nada há de errado em buscar a bênção, mas é melhor ter o dono da bênção, pois assim se tem tudo! O que você prefere? Ter um carro e estar longe de Deus, ou estar perto de Deus e ter todas as coisas? Busque ao Senhor. Davi não queria apenas uma bênção, ele queria intimidade com Deus. Ele sabia que, buscando a intimidade, teria a bênção.

2. Sinceridade apenas não substitui a verdadeira espiritualidade

Muitos de nós dizemos: “Eu sou sincero, o que Deus olha é a sinceridade!”, mas há quem use essa desculpa apenas para ser arrogante e carnal e justificar a indelicadeza, a brutalidade, a aspereza: “Eu sou assim, o que eu tenho para falar, eu falo na cara; sou sincero!”.
Há quem goste desse tipo de gente? Ninguém precisa ver a sujeira de ninguém. Se quiser mostrar, mostre primeiro para Deus. Ninguém vai se desculpar com Deus, quando Ele disser: “Você agiu mal”, simplesmente respondendo: “Senhor, pelo menos eu fui sincero”. Tem gente que é sinceramente ladrão, corrupto, adúltero. Davi era sincero e resolveu trazer a arca, então ficou sabendo que a arca havia sido roubada pelos filisteus e procurou saber o que havia acontecido (1Sm 5.6-12). Quando foi trazer a arca, em vez de procurar saber o padrão de Deus, Davi a colocou em carros de boi, com dois de seus soldados mais fortes para irem guardando a arca. Veja que é tudo muito sincero, é o melhor para Deus. Mas de repente os bois tropeçaram e Uzá estendeu a mão para segurar a arca e impedir que ela caísse no chão. O texto narra que ele foi ferido por causa de sua irreverência e morreu diante de Deus. Que coisa! Queriam a arca de Deus e, ao invés de ter a presença de Deus, tiveram morte. Todos ficaram tristes, mas eles eram “sinceros”. Sinceridade só não basta, é preciso seguir o padrão de Deus! Muitos acham que para cantarem no louvor, ou qualquer outra coisa que quiserem fazer, se forem sinceros, estará bom. É um engano! Se quisermos a glória de Deus, temos que trazê-la da maneira dele, não da maneira do mundo! Ministros de louvor não são animadores de auditório.
O carro de boi, no qual transportaram a arca, nos fala de métodos humanos, de mentalidade natural, compreensão natural. Muitas vezes a preocupação em agradar o povo é grande demais. Há pessoas que vão para as igrejas em busca de conforto, de sentir algo, de ouvir algo. Não são muitos os que vão oferecer algo a Deus ou por causa dele. Quando temos um povo, dentro da igreja, que age assim, as coisas são revolucionárias. Muitas igrejas transformam o culto em espetáculo. Não gostei quando alguém me disse: “Pastor, trouxe aqui o fulano para conhecê-lo, porque você é tão engraçado”. Eu me senti um rato de circo, fui para casa e chorei. Eu não quero ser engraçado, a Bíblia não diz que Jesus era engraçado. Tampouco Paulo, Moisés ou Davi são descritos como engraçados. A Bíblia diz que eles eram homens de Deus.
E é isso o que eu quero ser. Eu quero que a presença de Deus chegue a ponto de o ambiente ficar tão denso que todos sejam tocados. É isso que faz a diferença e não ter um culto interessante. Igreja não é entretenimento, mas sim um ambiente para sermos cheios da vida, da unção e do poder de Deus ou para recebermos as isciplina do Senhor, para sermos limpos pela Palavra. Não queremos carro de boi, não queremos entreter os santos, estamos aqui em função do Senhor.

3.Trazer a glória de Deus dá trabalho

A arca era um móvel pesado, revestido por dentro e por fora de ouro, um dos metais mais pesados e mais densos que existem. Não deveria ser fácil carregá-la. Davi trouxe a arca em um carro de boi porque era mais fácil do que trazê-la nas costas. Só depois do acidente Davi foi pesquisar e descobriu que eram os levitas que deveriam carregá-la (2Sm 6.9-18). Se, na primeira vez, Davi não conseguiu trazer a arca, na segunda vez ele conseguiu, pois entendeu que havia um padrão de Deus. Quando nós buscamos a glória de Deus, as coisas na verdade ficam mais difíceis. Os métodos de Deus, ao contrário do que imaginamos, não são os mais agradáveis, às vezes são os mais trabalhosos. Quando se faz algo genuinamente para Deus, as coisas às vezes não vão melhorar. É provável que, por um momento, até se tornem mais difíceis. O padrão de Deus é o caminho estreito da cruz. Quando colocou a arca sobre o carro de bois, Davi quis diminuir o serviço. Todavia, a arca foi levada da casa de Obede-Edom até Jerusalém (cerca de vinte quilômetros) por dois levitas, nos ombros.
Uma arca de um metro de profundidade por um metro e meio de comprimento, toda cheia de ouro, era muito pesada! E o caminho foi longo e entrecortado. A cada seis passos eles sacrificavam ao Senhor. Você consegue imaginar? Isso deu muito trabalho, árduo! Mas muitos querem a glória de Deus automática, barata, sem necessidade de busca, de intensidade, de clamor, achando que as coisas de Deus são como um show de Hollywood. A glória de Deus vem quando nós, como igreja, estamos dispostos a pagar o preço para obtê-la. E isso, às vezes, implica em esforço. Deus não se manifesta para quem é passivo, indisposto, preguiçoso. Temos que suar a camisa! Deus só aceita o que tem valor e só o que tem suor envolvido tem valor. Por isso Deus não está interessado em ofertas de ganhadores de loteria. Deus não irá nos abençoar à maneira do mundo, através da mágica, do que não envolve esforço, mas apenas o estalar de dedos. A glória de Deus vem por milagre e milagre é fruto do trabalho de Deus. São seis passos e o sacrifício de um animal! Suor descendo e o sangue do sacrifício os envolvendo. Como Davi chegou a Jerusalém? Suado, cansado! A glória de Deus não é fruto de mágica.

4. Deve haver um ambiente preparado para a glória de Deus

Deus não age em qualquer ambiente. Se nós queremos que Deus faça, deve haver o ambiente. Quando você for ao culto, vá par construir um trono de adoração e louvor ao Senhor! O salmista canta: “Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel” (Sl 22.2). Há uma versão desse verso que diz: “O Senhor se assenta no trono de louvores”. Em outra versão, em japonês, diz que “o nosso louvor é como uma grande cadeira onde Deus se assenta para governar”. Que coisa linda! Um lugar onde o Espírito de Deus tem ambiente. Eu fico observando, muitas pessoas chegam atrasadas à reunião e ainda esperam que haja ambiente para a glória de Deus. Elas chegam atrasadas quase sempre porque vão às reuniões para ouvir um pouquinho da Palavra. Mas espere aí. Você vai ás reuniões par ouvir a Palavra ou oferecer sacrifícios de louvor? Sem um ambiente, sem um trono para Deus se assentar, não haverá glória de Deus para nós. A palavra “glória” no hebraico é kadod, que significa “peso, algo denso, pesado”. Isso significa que a glória de Deus tem um peso e quando Ele quer manifestar a sua presença e a sua glória, Ele procura por um ambiente capaz de sustentar o peso de sua presença. Se não há tal ambiente, Ele não se manifesta! Quantos de nós queremos realmente participar da edificação de um trono para o Senhor vir com a sua glória. Para isso, há a necessidade de compromisso, de disposição para guardar um ambiente apropriado, santo, voltado para o Senhor, de fome de Deus e de intensidade. Eu não quero participar de uma igreja que não seja intensa, com pessoas que não são literalmente desesperadas por Deus e por sua presença. Há muitos que ainda são indiferentes, passivos, sem desejo pelas coisas de Deus, sem anseio pelas coisas de Deus. Como Ele pode agir em um ambiente assim? Nós precisamos guardar o nosso ambiente para continuarmos avançando na glória de Deus como Davi fez.

5. Não tenha receio de mudar o padrão da religião

Não tenha receio de ir para fora do padrão da religião. A religião daquela época era o tabernáculo! Religião é o ritual sem a presença de Deus. Um ritual vazio, feito mecanicamente. Às vezes tenho vontade de começar a reunião pregando e deixar o louvor para o final, outros dias, nem quero fazer louvor. Alguns crentes são viciados em emoção passageira, em sentir calafrios. Quando há um pregador estrangeiro,
ele já sente o calafrio só de ouvi-lo dizer “aleluia” em inglês. Ainda me dizem: “Ah, pastor! Não tenho culpa se você não tem unção”. Na verdade, sou eu que não tenho culpa deles serem depravados espirituais, praticando pornografia espiritual. Vivem em função do prazer, da sensação, de “orgasmos” da alma. Nós não devemos querer
meros calafrios na espinha, mas sim a glória de Deus, a cura, a libertação e a salvação genuínas. Não é errado sentir calafrios, mas não se sente calafrio só na igreja. Uma vez, ouvindo a orquestra sinfônica nacional tocando com o maestro Isaac Karabtchvsky, eu arrepiei tanto que cheguei a pensar que o maestro tivesse unção. Quase falei em línguas! O que acontece é que confundimos demais a emoção do
momento com a realidade. A emoção tem o seu lugar, não dá para servir a Deus sem emoção, mas não fiquemos só nisso, ela tem que resultar em realidade. Mas não use isso como motivo para achar que você tem que ficar no banco quieto sem fazer nada.

6. Não se pode preservar dignidade se você quer buscar a divindade

A Bíblia diz que “Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido de uma estola sacerdotal de linho” (2Sm 6.14). Davi usava uma roupa que ele não poderia estar vestindo, ele não era sacerdote. Ele era da tribo de Judá e a tribo sacerdotal era a tribo de Levi. Mesmo assim ele vestiu uma estola sacerdotal e resolveu dançar diante da arca, ou seja, abriu mão de tudo ao redor! Davi resolveu dançar diante de Deus com toda a sua força. Mical, sua esposa, viu e o repreendeu: “Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pejo, se descobre um vadio qualquer!” (2Sm 6.20). Davi estava voltando para abençoá-la, mas ele não abençoou e ela ficou estéril para o resto da vida. A igreja fica estéril quando perde a capacidade de se perder, de se soltar na presença de Deus. Muitas igrejas vivem debaixo dessa maldição de esterilidade e aridez por terem parado para criticar os outros. Temos que nos tornar como crianças. Uma criança quando está na hora de comer, não fica ponderando: “O pastor está pregando e eu não posso berrar, embora esteja morrendo de fome”. Ela abre a boca e, se demorar, vai berrar mais ainda. Não está nem aí para ninguém! Temos que ser como crianças se quisermos entrar no reino dos céus. O problema é que nos preocupamos muito com a opinião dos homens. Busquemos a aprovação de Deus e esqueçamos a aprovação dos homens. Vejamos o exemplo de Bartimeu. Ele foi o único a ser ouvido naquela ocasião, pois não se importou com os homens. Ele determinou o que queria: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” De longe seus gritos podiam ser ouvidos e certamente alguém mandou se calar, pois estava incomodando. Todavia, ele não quis nem saber e recebeu a bênção de Deus! Você tem que cultivar sua expressividade, pois, quanto mais apático, morto e inexpressivo, menos receberá de Deus. Atraia a atenção dele!

7. A glória de Deus será edificação ou tropeço

A Bíblia diz que a arca ficou na casa de Obede-Edom e Deus abençoou tudo que ele tinha. Por outro lado, Uzá encostou na arca e morreu. A arca é a mesma, para um trouxe morte; para o outro, bênção. A glória de Deus é a mesma, para um será bênção, para outro será maldição. O problema não está na glória e em Deus, mas na atitude. Mical ficou estéril por não ter passado no teste. A glória de Deus é teste para todo mundo, ninguém pode ficar indiferente à arca de Deus. O sol é o mesmo, mas, quando bate no barro, ele endurece; já ao bater na cera, ela amolece! Tudo depende da natureza do material. Qual é a sua atitude? De receber ou de resistir? Por último, a Bíblia diz que Davi clamou: “Como trarei a mim a glória do Senhor?”. A glória de Deus é como uma lâmpada e nós procuramos seu interruptor no escuro. Estamos tateando quando oramos, dançamos, pulamos, ajoelhamos e levantamos, e quem chega de fora fica olhando e pensando: “O que esse povo está fazendo?” A cena pode até parecer cômica, mas estamos tateando para achar o lugar que acende a luz. Quando acharmos a luz de Deus, ela será acesa. Às vezes, tatear parece estranho para muitos, mas o nosso tatear mostra apenas o nosso anseio. Quer saber como trazer a luz da glória de Deus? Faça um propósito com Deus e renove sua fome original, seu primeiro amor!

Pr. Aluízio Antônio